Do Contas Abertas
Em
2007, quando o Brasil foi anunciado como sede da Copa das Confederações
de 2013 e da Copa do Mundo de 2014, o então presidente da Confederação
Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, afirmou que o poder
público nada gastaria com atividades desportivas. “A Copa do Mundo é um
evento privado”, garantiu. Passados quase sete anos desde a declaração,
os recursos públicos estão financiando não somente as construções e
reformas nos estádios que receberão o evento, ao custo total de R$ 7,1
bilhões, mas, também, campos e centros esportivos que não estão na lista
de cidades-sede.
Neste
ano, por meio da ação “Apoio à realização da Copa do Mundo Fifa 2014” do
Ministério do Esporte, já foram empenhados R$ 79,3 milhões para as
melhorias, reformas, estruturações aquisição de equipamentos,
modernizações e adaptações em estádios de apoio para o Mundial de 2014 e
para a Copa das Confederações, que se inicia hoje.
O governo
já empenhou (reservar em orçamento para posterior pagamento), por
exemplo, R$ 7 milhões para “suplementação de recursos orçamentários” com
a finalidade de implantar e modernizar o Centro Oficial de Treinamento
da Barra do Pari, em Várzea Grande, no Mato Grosso. Outros R$ 6,9
milhões serão destinados à implantação e modernização do Centro Oficial
de Treinamento no Campus da Universidade Federal do Mato Grosso.
Para o
Estádio Martins Pereira, em São José dos Campos (SP), já foram
empenhados R$ 6 milhões, objetivando a adequação do equipamento
esportivo para servir como “Centro de Treinamento de Seleções para a
Copa do Mundo FIFA 2014”. O mesmo valor foi reservado para adequação nas
instalações do Estádio Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul (SP).
O objetivo é colocar o estádio nos padrões internacionais de
atendimento estabelecidos pela FIFA.
Para as
obras no Estádio Milton de Souza Côrrea, conhecido como Zerão, em Macapá
(AP), foram empenhados R$ 4,1 milhões com vistas à adequação às normas
da FIFA. Para melhorias no Estádio Castelão, em São Luís (MA), R$ 5,9
milhões foram reservados. Já para o Estádio Municipal Antônio Fernandes,
na cidade de Guarujá (SP), foram empenhados R$ 4,5 milhões para
atendimento a todos os requisitos exigidos pela FIFA para Centro de
Treinamento de Seleções nas subsedes hospedeiras.
No caso
do Estádio Municipal Dr. Novelli Júnior, localizado na cidade de Itu, no
estado de São Paulo, casa do Ituano Futebol Clube, foram empenhados R$
2,8 milhões para “melhorias necessárias [...] para a preparação dos
Centros de Treinamento de Seleções Públicos para a Copa das
Confederações FIFA de 2013 e Copa do Mundo FIFA 2014”.
A lista
não para por aí. Estão incluídos nesses gastos a modernização do Estádio
Serra Dourada (R$ 3,3 milhões), em Goiânia, melhoria das instalações do
Estádio Municipal de Joinville (R$ 3,9 milhões), em Santa Catarina,
revitalização do Estádio João Lamego Neto (R$ 1,9 milhão), em Ipatinga
(MG). Além disso, há empenhos de R$ 1,2 milhão para reforma, melhoria e
adequação do Estádio Municipal João Havelange, em Uberlândia (MG), e R$ 1
milhão para a implantação de melhorias no Centro de Treinamento de
Seleções de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
Segundo o
jornalista José Cruz, que cobre há mais de 20 anos os bastidores da
política e economia do esporte, acompanhando a execução orçamentária do
governo, esse tipo de investimento só demonstra como o anúncio de que os
megaeventos trazem resultados positivos é ilusório. “Os grandes
patrocinadores dos eventos são empresas de marcas famosas, mas o que nós
vemos são recursos públicos fazendo os investimentos nas obras de
infraestrutura no Brasil”, afirmou.
De acordo
com Cruz, cada vez mais o Ministério do Esporte está abraçando o
futebol, área que não é da sua competência. O jornalista esportivo
afirma que o a Pasta vem liderando a campanha para o perdão das dívidas
fiscais dos clubes e fornecendo recursos para formação de atletas em
grandes clubes por meio da Lei de Incentivo ao Esporte.
“Não
surpreende que verbas também estejam sendo repassadas para preparar
áreas de treinamento como essas. É apenas mais uma ação na qual o
Ministério do Esporte está envolvido, em segmento altamente rentável e
lucrativo como é o futebol, e sem transparência. Os megaeventos são
privados, mas os recursos são públicos”, conclui.
Outros gastos
Entre as
iniciativas também estão ações especiais de promoção e de participação
em eventos internacionais para a divulgação do Brasil como país sede da
Copa do Mundo FIFA 2014, bem como eventos e campanhas nacionais. Dessa
forma, em 2013 já foram pagos R$ 800 mil para a empresa “Evidencia
Display – Publicidade, Exposição e Eventos LT” atender despesas com
montagem do estande “Goal to Brasil 2013” em diversos países como Peru,
Uruguai, Reino Unido, México, Alemanha, Espanha e Itália.
Além
disso, a iniciativa tem a finalidade de realizar e atualizar estudos,
levantamentos e pesquisas de dados e informações (quantitativos e
qualitativos), com vistas a subsidiar a organização a Copa e a
contratação de serviços especializados de consultoria. Nesse sentido,
pelo menos R$ 7,4 milhões pagos para empresas de prestação de serviços
em organização de eventos, serviços gráficos e consultorias.
Ao todo,
em 2013, a ação “Apoio à realização da Copa do Mundo Fifa 2014” conta
com orçamento autorizado de R$ 270,5 milhões para as iniciativas. Até o
último dia 10, 33,5% do total de recursos, o equivalente a R$ 90,7
milhões, foram empenhados e 3,8%, isto é, R$ 10,1 milhões, foram pagos.

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