(*) Marli Gonçalves
(01.07.2013)
Sabe criança quando mostra o “dodói”? Imagino o Brasil, o
mapinha, todo remendado, com ataduras, suplicante, apontando com os seus
dedinhos gordos para suas próprias feridas, que são muitas, urgentes,
não dá mais para eles enrolarem. E a gente tem de aguentar, além do
mais, e ainda por cima, esse palhaço fazendo graça com a nossa cara, com
o que e sério, com o que temos a dizer? Ouvir todos esses
vira-bandeira/casaca, cara de pau de peroba, adeptos de última hora,
falando em corrupção, passe livre, e iniciando mais movimentos
populistas? Aguentar cara feia?
Ora, chega! Vocês me desculpem, mas tem hora que quero fazer aquela
cara da Dercy Gonçalves, lembram?, aquele trejeito de puxar a boca, só
dela, troçando e ao mesmo tempo fazendo gestos obscenos, pouco se
importando, mas muito clara em seus protestos, esbugalhando o olho.
Sempre gostei de Dercy, não sei se pelo Gonçalves, mas acho que mais,
muito mais, pela clareza de suas críticas, sem papas na língua.
Então, como ia dizendo, e com essa cara de Dercy: Sr. Feliciano, cura aqui, ó! Dona Dilma, cura aqui, ó!
Quero dizer: senhores doutores, formadores de opinião, elite
pensante, gente legal de várias matizes, intelectuais sérios e
não-vendidos para os sistemas, artistas, juristas, homens e mulheres que
querem o bem do Brasil! Reúnam-se! Não esperem mais o chamado porque
está tudo muito confuso e ele, esse pedido de uma sociedade civil
organizada, pode não vir tão já, e nós precisamos de vocês agora. Curem
aqui, ó!
Curem a descrença com que andamos pelas ruas, em nossas marchas onde
pedimos de tudo, para ver se ganhamos algum troco. Curem o nosso
combalido sistema de saúde, ameaçado agora de piorar com a contratação
desastrada e mal pensada de médicos estrangeiros, que vão fazer o que,
vão viver como nesse interior de Deus? Não vai dar certo, a gente sabe.
Evitem que aconteça. Evitem, por favor, que se gaste, que se desperdice
tanto, inclusive tempo e, fundamental, não deixem que nos enganem com
tantas propostas mirabolantes e pouco práticas. Assumam alguma
responsabilidade nisso tudo.
O Governo está um Governo ENEM, cheio de erros em várias questões, em
várias alternativas que acabarão por ser anuladas e nós seremos postos à
prova, mas de coisas ruins.
Conheço e tenho encontrado com vários de vocês. Sei bem que vocês
estão aí na espreita, com um sorrisinho feliz na cara, aquele, quase
cínico, porque – convenhamos e admitamos – tudo isso é surpresa, já
imaginávamos quase perdido esse jogo, e é bom demais ver esses caras que
esqueceram para o que vieram, sambando na fogueira acesa, pisando em
brasas,ui,ui,ui. Mas sei também que vocês estão bem apreensivos com a
gravidade do momento, um pouco perplexos com a desarticulação, com o
bate-cabeça, com as lideranças questionáveis, com porta-vozes que não
reconhecemos. Não vai dar para ficar só no camarote, minha gente,
fazendo cara de vip. Tem de descer no campo, escrever, dar entrevistas,
devem contatar se entre si, não ter medo – não é hora!- de criticar, de
se expor, de sujar as mãos, e até de errar. Conclamo uma reunião dos que
têm boa vontade.
Precisamos continuar “ticando” a lista de desejos que é enorme,
validar a prescrição de remédios para curar o que há de ser curado, e
não é sem tempo. Nisso, varreremos de nossa frente muitos desses
dissimulados, jogadores do Mal, a começar por esse zinho que vem usando a
religião para suas brincadeiras na área de direitos humanos, que ousa
nos enfrentar conclamando uma daquelas que seria a pior divisão agora, a
da guerra religiosa, do preconceito, da banalização da violência.
Chega: é hora do basta. Vamos curar nossas instituições. E o
comportamento, mas o deles, que são os que precisam ser corrigidos mais
rapidamente.
Eles, os que nos governam, estão perdidos, e de mau humor, ladeira
abaixo. Os que nos representam estão acuados, vendo o vento soprar em
suas nucas, fazendo-os tirar os fundilhos de sua zona de conforto. Os
que nos penalizam, devem agilizar e fazer cumprir as regras, que serão
fundamentais e precisaremos que ajam como sábios. Os Três Poderes estão
em estado de choque, cada um no seu quadrado.
Vamos apoiar mudanças, vamos ajudar, mantendo as ruas falando,
buscando clima de paz, sem confrontos quando estes não forem
necessários, quando não sirvam como defesa. Olho vivo em infiltrados,
provocadores e gente que joga em campos cujo gramado já replantamos uma
vez, e não queremos outra. Chega de violência.
Cura aqui, ó! Cura esse Brasil tão louco, que se inflama, que se
emociona, que sabe brincar até quando fala sério. Que não quer andar
para trás, nem perder suas conquistas.
São Paulo, segundo semestre, 2013
(*) Marli Gonçalves é jornalista – Tanta tensão, tanto stress, tem de valer.
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no http://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo

Nenhum comentário:
Postar um comentário