Lançando mão de muitas
fontes bibliográficas e orais, especialmente de ex-companheiros de
Guevara, Fontova relata, de maneira impiedosa e irônica, como o
argentino, muito longe do homem perfeito idealizado pela mitologia
esquerdista, era uma pessoa ressentida, vingativa, incompetente e
responsável direto pelo assassinato de centenas de pessoas absolutamente
inocentes de qualquer tipo de crime.
Vindo
de uma desestruturada família burguesa argentina simpatizante do
comunismo, Guevara seria considerado, sob qualquer aspecto, um
vagabundo, um andarilho perdido no mundo. Seu envolvimento com exilados
cubanos no México após uma passagem pela Guatemala acabou levando-o para
aventuras em Cuba, no seio do movimento armado contra o ditador
Fulgêncio Batista.
A luta contra Batista é um capítulo a parte, que revela muito do modus operandi
de Guevara e Fidel Castro. Diferente do senso comum, segundo o qual
Batista foi derrotado por uma série de intensas batalhas movidas por
guerrilheiros audaciosos, o que menos houve na derrocada de Batista foi
luta armada. Castro operava, sobretudo, no terreno da propaganda,
angariando dinheiro em grande quantidade, especialmente das elites
cubanas, cansadas do regime de Batista, e as simpatias
internacionais, em particular nos Estados Unidos, através da mídia que
se encarregou de forjar a imagem de valorosos revolucionários para Fidel
Castro e Che Guevara – que, aliás, nessa época era apenas mais um
dentre vários colaboradores da revolução.
O
regime de Batista caiu principalmente pela corrupção de suas forças,
que aceitavam dinheiro de Fidel Castro para retirar-se sem luta, cansaço
das elites cubanas e dos americanos em tolerar os métodos de Batista,
e, em especial, a crença em que Castro e seus homens eram realmente
democratas e honestos em seus objetivos.
Após
a vitória na luta contra Batista, em pouco tempo a verdadeira face do
regime revelou-se: violência, assassinatos, tortura e prisões. E Guevara
teve papel fundamental nisso.
Neste
ponto, Fontova faz uma clara distinção entre Castro e Guevara. Enquanto
Fidel Castro era muito mais hábil, utilizando a violência como meio
para atingir um fim, Guevara parecia ver na brutalidade e assassinatos
um fim em si mesmo. Guevara acreditava que a “violência revolucionária” –
leia-se, a morte sem piedade de todos os inimigos, reais ou imaginários
– era a melhor forma de controlar o poder. Assim, desde o começo,
Guevara ligou-se ao aparato repressivo do bloco soviético, transportando
seus métodos para o cenário cubano.
Talvez
o mais chocante para os fás de Guevara que por ventura lerem o relato
de Fontova, seja a imensa distância sobre o significado que lhe é
atribuído – um ícone da liberdade e igualdade – e sua real figura.
Assim, um homem que é cultuado por líderes de minorias raciais, hippies,
alternativos e jovens, tinha, na verdade, uma mentalidade racista,
patriarcal, despótica e arrogante, desprezando negros, jovens,
“cabeludos”, música – enfim, tudo aquilo que, dizem as esquerdas e
desinformados em geral, Guevara simbolizaria.
Humberto
Fontova mostra como essas e muitas outras incoerências foram e ainda
são resultado do verdadeiro caso de amor que existe entre os meios
intelectual e midiáticos, especialmente o norte-americano, e a ditadura
de Fidel Castro, citando por exemplo o jornal New York Times, que
repetiu com Castro exatamente o que já tinha feito, na década de
1930, encobrindo os crimes do regime de Stalin. [*]
A
imensa incompetência de Guevara a frente do ministério da economia
destruiu a infraestrutura cubana, desorganizando até hoje um dos países
mais prósperos das Américas, levando o caos e a miséria a uma população
cristã e orgulhosa, favorecendo sua submissão ao projeto de poder
totalitário ambicionado por Fidel Castro. A este respeito, o autor
mostra com números e informações detalhadas como Cuba era econômica e
socialmente antes da chegada ao poder de Castro e Guevara e como ficou
depois.
O
livro revela episódios pouco conhecidos, como o envolvimento de Guevara
em uma série de atentados terroristas frustrados nos EUA, logo após a
chegada ao poder em Cuba, época em que os americanos ainda tinham
ilusões quanto aos objetivos de Fidel Castro; o real significado da
Crise dos Mísseis – que funcionou como um “sinal verde” para Castro
impor seu regime totalitário a Cuba, já que teve a garantia dos EUA de
que sua ditadura não seria incomodada –; a chamada “invasão da Baía dos
Porcos” e a dura repressão contra a revolta popular mantida durante
metade da década de 1960 pela população rural cubana contra o regime de
Fidel Castro, como reação à coletivização forçada.
As
aventuras externas de Guevara, primeiro no Congo e depois na Bolívia,
em missões militares permeadas de muita retórica revolucionária vazia e
nenhuma competência até mesmo para assuntos práticos elementares (como,
por exemplo, ler uma bússola para não se perder na selva), resultaram
primeiro no descrédito de Guevara como um líder revolucionário viável,
após o fracasso no Congo, e, depois, em sua morte na Bolívia, encerrando
assim sua vida e carreira de revolucionário que se pretendia genial.
Curioso notar que tanto no Congo quanto na Bolívia Guevara foi
confrontado por forças das quais faziam parte cubanos que haviam deixado
seu país após o início dos desmandos do "Che" e Castro,
e que demonstraram muito mais competência militar do que Guevara, cuja
tão falada habilidade tática e estratégica encontra-se guardada junto
com seus demais méritos, ou seja, na propaganda.
Destaque
também para o documentário que acompanha o livro, “Guevara, Anatomia de
um mito”, com imagens e depoimentos sobre Ernesto Guevara desde seus
tempos de desocupado na Guatemala até sua morte na Bolívia,
complementando de forma muito eficiente e sóbria o trabalho de Fontova.
[*] Nota:
Um dos maiores biógrafos “chapa-branca” de Guevara citado várias vezes
ao longo do livro de Fontova, o mexicano Jorge Castãneda, antigo
esquerdista radical há alguns anos convertido ao socialismo light de
cunho social-democrata atualmente predominante na política
latino-americana e nos EUA, esteve há poucos dias envolvido num episódio
no minimo curioso. Convidado para um evento na Venezuela, promovido
pela oposição ao ditador Hugo Chávez, Castãneda criticou o fato de que
“Chavez estava tentando criar outra Cuba” na América Latina. Para quem
dedicou grande parte de sua vida a incensar o tirano Castro e vassalos
do ditador como Guevara, essa é uma virada e tanto.
Fonte: A Verdade Sufocada

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