Alça de mira – Não foi por acaso que o procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, decidiu pela criação de uma força-tarefa, composta por
cinco procuradores, para acompanhar os nefastos e explosivos
desdobramentos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que desbaratou
um esquema criminoso de lavagem de dinheiro que pode ter movimentado R$ 10 bilhões.
A decisão de Janot foi tomada dias antes de a Justiça Federal acolher
denúncia contra o doleiro Alberto Youssef, preso em Curitiba desde 17
de março. As denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal têm por base os crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, fraude em contratos de câmbio,
operar instituição financeira sem autorização e formação de quadrilha.
Como agentes de tais crimes, de acordo com o MPF, aparecem os nomes de Alberto Youssef,
Carlos Alberto Pereira da Costa, Esdras de Arantes Ferreira, Leandro
Meirelles, Leonardo Meirelles, Pedro Argese Júnior e Raphael Flores
Rodrigues.
É necessário destacar que as investigações que culminaram com a
Operação Lava-Jato tiveram como ponto de partida denúncias formuladas
pelo empresário Hermes Magnus, dono da Dunel Indústria e Comércio, e
pelo ucho.info. Como já mencionado nas reportagens
anteriores da série, a Dunel procurava um investidor para ampliar seus
negócios e seu proprietário acabou como alvo de uma criminosa armadilha
do ex-deputado José Janene, já falecido e conhecido como o “Xeique do
Mensalão do PT”.
Sem conhecer o currículo peçonhento de Janene, o empresário acertou
um investimento de R$ 2 milhões para incrementar a produção de
equipamentos de automação e certificação industrial. O aporte financeiro
se deu através da empresa CSA
Project Finance, comandada por José Janene e Alberto Youssef, mas que
tinha como um dos prepostos da dupla o “cítrico” Carlos Alberto Pereira
da Costa. Outro que frequentava o laranjal do crime é Cláudio Mente, que
não foi alcançado pela Operação Lava-Jato.
Os integrantes do esquema liderado por Youssef não são amadores e
evitaram deixar rastros, mas a sensação de impunidade de alguns
beneficiários das ações criminosas acabou desmoronando um castelo de
desmandos e corrupção. Ao denunciar os acusados pelos crimes acima
descritos, o Ministério Público Federal foi cirurgicamente preciso, pois
o inquérito da PF não deixa dúvidas acerca do assunto, como pode-se
conferir abaixo.
No início de 2009, quando as denúncias contra José Janene e Alberto
Youssef começaram a aterrissar nas escrivaninhas das autoridades, uma
intrincada lavanderia financeira já funcionava a todo vapor sob a batuta
do ex-deputado federal pelo Partido Progressista, que anos depois veio a
falecer em decorrência de problemas cardíacos. As primeiras evidências do funcionamento dessa central de branqueamento de capitais surgiram com os depósitos bancários
feitos, a mando da CSA, nas contas dos fornecedores da Dunel, que
passaram a exigir documentos que comprovassem a origem do dinheiro. Foi a
partir desse ponto de discordância entre Magnus e o bando de Janene é
que a fervura subiu. Por sorte o Brasil foi contemplado com a retidão de
caráter de Hermes Magnus, que continua correndo risco de vida.
Quadrado pisou na bola
Não bastasse o seu envolvimento no Mensalão do PT, o maior e mais
ousado escândalo de corrupção da história polícia nacional, e a
lavanderia financeira que comandava, José Janene viu surgir no horizonte
outro imbróglio. Ex-diretor da corretora Bônus Banval e condenado pelo
STF na Ação Penal 470, Enivaldo Quadrado foi preso no
Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, no dia 6 de dezembro
de 2008. Quadrado desembarcou no aeroporto transportando 361 mil euros
(cerca de R$ 1,2 milhão à época), mas não declarou a quantia à Receita
Federal. Fora isso, foi acusado de falsidade ideológica, pois informou
ao órgão que não trazia mais do que US$ 10 mil, limite estabelecido por
lei e que dispensa declarações específicas.
No momento da prisão, Enivaldo Quadrado disse que o dinheiro era
proveniente de um empréstimo feito por um amigo português, cujo nome
jamais foi revelado, e que serviria para investir em um negócio de
automóveis. Na verdade, de acordo com
as investigações, Quadrado teria mentido aos policiais para proteger
outro amigo, o enrolado José Janene, o verdadeiro dono do dinheiro.
Como sabem os moradores de Londrina e confirmou a Polícia Federal no inquérito da Lava-Jato, Janene tinha entre seus bens a JN Rent a Car,
empresa de locação de veículos que ainda manteria contratos com muitas
prefeituras de vários estados brasileiros. A “JN” focou seu negócio na
terceirização de frota das prefeituras, cujos contratos, segundo consta,
eram conseguidos à base de pressão e pagamento de propina.
Escondendo o ouro
Preso na esteira da Operação Lava-Jato, Enivaldo Quadrado manteve
segredo sobre os 361 mil euros, encontrados pela PF nas meias, na cueca e
em uma pasta do “irmão camarada” de Janene. Apesar do mistério sobre a
origem do dinheiro, suspeita-se que parte seria entregue, em Londrina, a
Stael Fernanda Rodrigues Lima, ex-mulher de José Janene, de quem o político havia se separado meses antes.
O que a PF jamais soube é que na madrugada do dia em que Enivaldo
Quadrado foi preso em Guarulhos, parentes de Janene viajaram a São Paulo
em uma camionete de sua propriedade para receber o dinheiro e levá-lo a
Londrina. À época, Stael Fernanda declarou à imprensa que desconhecia o
caso do dinheiro apreendido com Enivaldo Quadrado. Disse, inclusive,
que gostaria de ser a destinatária do mesmo.
A relação nada ortodoxa entre José Janene, Enivaldo Quadrado e
Alberto Youssef ganha força nas investigações da Operação Lava-Jato. Em
uma das muitas interceptações, a PF encontra indícios de que Quadrado é
subordinado a Youssef e que a Bônus Banval sempre pertenceu ao doleiro. O
que explica o fato de Daniele Janene, filha de José Janene, ter
estagiado na corretora que foi uma das lavanderias do Mensalão do PT.
De Celso Daniel à Lava-Jato
A teia criminosa que salta da Lava-Jato não é pequena. Em uma das mensagens interceptadas, a Polícia Federal sugere Nelma Kodama, que diz ser “a dama do mercado de câmbio”, tem ressentimentos em relação a Youssef.
Em mensagem interceptada, Nelma troca confidências com Aline Temer
Kamada da Rocha Mattos, ex-mulher de João Carlos da Rocha Mattos,
ex-juiz federal preso na Operação Anaconda acusado de venda de sentenças
judiciais. Nelma, que detalha à ex-cunhada algumas das estripulias
financeiras de Alberto Youssef, foi presa no Aeroporto de Guarulhos,
momentos antes de embarcar para a Europa, portando 200 mil euros na
calcinha. Aos policiais federais da Operação Lava-Jato a “dama do
câmbio” disse que o dinheiro seria utilizado na compra de moveis
europeus, uma vez que atualmente ela se dedica ao design. Segundo apurou
o ucho.info, o dinheiro estaria sendo levado para a Europa a pedido de
um conhecido advogado que atuou no julgamento da Ação Penal 470, que
teve como cardápio o Mensalão do PT.
Nelma Kodama não é figura desconhecida nos bastidores das confusões.
Em 2005, depôs à CPI dos Correios, ocasião em que negou o envolvimento
de Youssef no criminoso esquema operado pelo Palácio do Planalto, mas
admitiu ter perdido muito dinheiro na corretora Bônus Banval, que agora a
PF suspeita ser de propriedade do doleiro.
Para quem não se recorda, Nelma Kodama atuava com muita desenvoltura
em Santo André, importante cidade do Grande ABC, e à época operou com
frequência na troca de dinheiro para os envolvidos no escândalo de
corrupção que culminou com o assassinato do petista Celso Daniel.
Maranhão no alvo
Entre as muitas operações de câmbio escusas, uma chama a atenção não
apenas pelo valor mencionado da transação (US$ 1,3 mil), mas
principalmente pela cidade do suposto beneficiário. Em mensagem
interceptada pela Polícia Federal, Carlos Habib Chater, operador de
câmbio conhecido pela alcunha de “Primo”, informa ao seu interlocutor,
identificado como “RO”, que no dia seguinte estaria na capital paulista
para finalizar uma transferência de dólares para alguém de São Luís, no
Maranhão.
Chater é homem de confiança de Alberto Youssef e participou da
operação criminosa de investimento na empresa Dunel, em Londrina, a
mando do finado José Janene. Como se sabe, os atacadistas do mercado
paralelo de câmbio não operam com valores pequenos, da mesma forma que
nesses casos não utilizam cortinas de fumaça para esconder uma operação
ínfima, se comparada ao movimento financeiro do esquema liderado por
Youssef.
Pessoas que tiveram acesso ao inquérito da Operação Lava-Jato
garantiram ao editor do ucho.info que a mencionada transferência, que
passaria pela China, seria de US$ 1,3 milhão e pode atrapalhar os planos
eleitorais de políticos influentes e conhecidos no Maranhão, sempre
envolvidos em negociatas e escândalos de corrupção.
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