(*) Ipojuca Pontes –
Os economistas, eternos devotos de uma ciência sombria, ensinam que a
inflação é excesso de papel moeda para uma escassez de mercadorias,
mesmo que as mercadorias sejam produzidas em ritmo frenético. Alimentada
não por acaso pelo governo, a inflação deve ser considerada, sempre,
como uma forma indireta de tributação a incidir sobre a indefesa
população.
Mas Ludwig von Mises, economista da Escola Austríaca, sem
propriamente contestar, desconfiava da teoria de que a diminuição
proposital do poder aquisitivo da unidade monetária tenha tido papel
decisivo na evolução da história. Para ele, inflação e deflação são
faces da manipulação dos governos, em geral socialistas, para ferrar a
patuléia ignara.
Na verdade, ao adotar políticas econômicas inflacionárias ou
deflacionárias, a máquina do governo, longe de atender o bem-estar
geral, está apenas atendendo interesses de grupos privilegiados ou da
própria máquina oficial. Segundo Mises, a expansão da base monetária
sempre resulta em investimentos desbaratados e na exacerbação do consumo
– o que torna a nação, como um todo, mais pobre: “Uma inflação
continuada acaba provocando a alta desastrosa de preços e a completa
ruína do sistema monetário”. Para ele, se o mal causado pela deflação é
considerável, o da inflação é maior – e só empanturra as burras do
Tesouro.
Na teoria, embora o governo tenha fixado a meta inflacionária em
4.5%, na prática a inflação anual brasileira tem variado em torno da
marca de 6% – o que significa dizer, na soma dos últimos quatro anos,
uma inflação acumulada em cerca 24% – um rombo (roubo) indigesto na vida
econômica do espoliado cidadão-contribuinte.
Eis os dados: em 2012, a inflação da China foi de 2,4%; nos Estados
Unidos ela atingiu 1,5%; a do Chile ficou em 1%. Com a inflação mundial
em baixa, até mesmo um burocrata do Banco Central, Luiz Awazu, apareceu
para dizer que a inflação do Brasil é “elevada, difusa e persistente”.
Nesta reta, um representante da Força Sindical, aliada do governo, pediu
a volta da indexação salarial com negociações de dissídios coletivos a
cada três meses – o mesmo que acionar, a médio prazo, o velho gatilho da
hiperinflação. Deus do Céu!
De fato, a maré inflacionária regurgita. Os produtos industriais
estão sendo reajustados numa média de 20%. O setor de serviços bate os
8,30%. No cotidiano, a hora do estacionamento aumentou 65% e guardar o
carro custa mais que o salário do motorista. O preço das passagens
aéreas subiu 132%. Por outro lado, qualquer birosca metida a besta está
cobrando R$ 400 por refeição. Como dizem os malandrins do governo, é
mais barato viver em New York ou Paris do que no Rio de Janeiro.
Detalhe: para manter o consumo em alta, que rende em impostos R$
bilhões aos abarrotados cofres públicos, o golpe do poder petista é
incentivar o consumo pela manutenção artificiosa do crédito fácil. Com
isso, os estrategistas de Brasília estouram os orçamentos domésticos,
oficializam o calote, mas enfiam uma fortuna no estomago do ogro. Por
exemplo: na venda de um carro popular de R$ 33 mil, o fisco engole em
tributos 39% do seu valor.
A propósito de impostos, de acordo com dados do IBGE, o PIB
brasileiro em 2012 rondou a casa dos R$ 4.403 trilhões. Desse
considerável ervanário produzido por empresários e trabalhadores, a
canalha oficial se apropriou de cerca de dois trilhões de reais. A
pergunta que se faz é a seguinte: para onde vai essa grana fabulosa?
Resposta: entre outras mazelas, para manter a gigantesca militância
do PT pendurada nos polpudos salários dos 39 ministérios e empresas
públicas; financiar obras faraônicas tipo Transposição das Águas do São
Francisco, um caudaloso hidronegócio orçado pelo governo Lula em R$ 4.6
bilhões, mas que, se acaso concluído, em 2025, ultrapassará a casa dos
R$ 30 bilhões; distribuir a bilionária grana do BNDES com empresários
inadimplentes do porte de Eike Batista, grande doador de grana para as
campanhas do PT; manter acesa, com gordas gratificações, a revanche da
mentirosa “Comissão da Verdade”, inventiva na criação de mártires e
pródiga na doação de ricas indenizações para terroristas em geral, a
começar por Dilma; estimular com bilionárias verbas publicitárias a
ética relativista da grande imprensa, em especial a mídia televisiva de
maior audiência; cooptar e manter no cabresto a chamada classe
artística, sempre sedenta de dinheiro subsidiado, em especial o pessoal
do insaciável “cinema da retomada”, capitaneado por Don Barretão e o
bem-falante Cacá Diegues, um quadro corporativo empenhadíssimo na arte
de tomar recurso público a fundo perdido.
Como o espaço findou, deixo a cargo do leitor a tarefa de anotar
demais rombos e fraudes cometidos contra o Erário, a começar pelos
“malfeitos” de Rosemary Noronha, a amiga íntima de Lula acusada de
tráfico de influência, corrupção e formação de quadrilha.
Até!
(*) Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da
Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional,
jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros
de todos os tempos.
Link para esta matéria: http://ucho.info/?p=70063

Aurélio é uma discrepância o que o governo cobra. Cada dia que se passa a vida aqui no Brasil se torna mais cara.
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