Tensão diplomática – Agora sem um passaporte válido, o técnico de informática Edward Snowden
não pode deixar o aeroporto em Moscou. Seu documento foi cassado pelos
Estados Unidos depois que o ex-consultor da Agência Nacional de
Segurança (NSA, na sigla em inglês) vazou informações secretas para a
imprensa sobre um esquema do órgão que monitorava informações de
cidadãos norte-americanos e estrangeiros. A vigilância acontecia através
de um programa chamado Prism, que acessava dados de grandes servidores
de internet ao redor do planeta.
Desde o início de junho, quando revelou o esquema, o jovem de 30 anos
está em fuga constante. No último domingo (23), Snowden desembarcou em
Moscou, procedente de Hong Kong. De acordo com informações veiculadas na
imprensa internacional, Edward Snowden pretendia seguir viagem para
Cuba ou Equador, onde apresentaria pedido de asilo político.
O governo do equatoriano Rafael Correa solicitou um pedido por
escrito de Snowden para que avalie a possibilidade de concessão de
asilo. Essa exigência pode ser apenas formalidade legal, mas não deve
ser descartada a possibilidade de proporcionar uma cortina de fumaça
para que o ex-consultor da NSA complete o seu plano de fuga.
Contudo, a viagem com destino à América Latina está sendo adiada
porque o ex-agente não consegue comprar passagem sem um passaporte
válido, informou na quarta-feira (26) a agência de notícias russa
Interfax, que citou fontes anônimas próximas a Edward Snowden.
Na terça-feira (25), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou
que o jovem permanecia na área de trânsito do aeroporto de
Sheremetyevo, ao noroeste de Moscou. Horas depois do anúncio, Putin
declarou que o governo russo não poderia atender ao pedido da Casa
Branca de extraditar Snowden.
Prisioneiro da Rússia
Depois do fim da chamada “Guerra Fria”, Estados Unidos e Rússia
adotaram um relacionamento formal entre os dois países, com movimentos
de aproximação e distanciamento de acordo com cada governante.
Especialista em assuntos sobre a Rússia da Universidade de Innsbruck,
na Áustria, Gerhard Mangott não considera crível a informação de que o
jovem norte-americano esteja no aeroporto de Moscou. “Eu acredito que
Snowden não está na área de trânsito do Sheremetyevo”, afirmou em
entrevista à DW.
Para Mangott, o ex-consultor da NSA provavelmente está sendo
interrogado por autoridades russas em local secreto. “Os russos não
deixariam passar essa oportunidade”, diz Mangott. Mesmo assim, Putin
desmentiu essa possível situação.
Especialista em leste europeu da Universidade de Colônia, na Alemnha,
Gerhard Simon também está cético. “Não sabemos se Snowden realmente
está no Sheremetyevo”, diz. Para Simon, o ex-consultor é um prisioneiro
da Rússia, pois ele precisa de ajuda do país para poder continuar sua
viagem.
Snowden seria “um peixe que inesperadamente pulou na rede do serviço
secreto russo”, diz Mangott. O especialista austríaco afirma também que
Putin estaria sentindo “uma satisfação pessoal” com a situação. Há
alguns anos, um esquema de espionagem russo foi descoberto nos EUA.
Agora, Moscou teria a possibilidade de uma revanche, segundo Gerhard
Mangott.
Teste para as relações entre Rússia e EUA
Os EUA exigem a extradição de Snowden e fazem ameaças. Putin disse
que essa ação é impossível, pois não há um acordo de extradição entre
Moscou e Washington e que, além disso, o ex-consultor não cometeu nenhum
crime na Rússia.
Para Simon, da Universidade de Colônia, esse argumento é hipócrita.
“Mandados de prisão internacional sempre partem do princípio que outro
país acusa alguém de um crime que precisa ser esclarecido”, diz o
especialista.
O caso Snowden compromete ainda mais as relações entre Rússia e EUA,
estremecidas desde a eleição de Putin para presidente, há um ano. Entre
os assuntos considerados “espinhosos” entre os dois países, estão as
visões diferentes sobre o conflito na Síria e a disputa sobre os planos
da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para a implementação
de um escudo antimíssil na Europa, por exemplo.
No final de 2012 houve, inclusive, uma crise legislativa. Os EUA
aprovaram a chamada lei Magnitski – que proíbe a entrada no país dos
funcionários públicos russos culpados da morte do advogado russo que
criticava o Kremlin quando estava em prisão preventiva. A justificativa
dos EUA para a elaboração da lei foi punir violações de direitos humanos
nesse caso na Rússia, que reagiu proibindo a adoção de crianças para
famílias norte-americanas.
Sem exílio na Rússia
Gerhard Mangott alerta que os Estados Unidos podem agora aprovar leis
que causem consequências graves na relação bilateral. Ele se refere às
declarações de alguns senadores norte-americanos, que exigem uma dura
resposta ao comportamento do governo russo no caso Snowden.
Para evitar essa reação, Moscou deve deixar Snowden seguir viagem,
acredita Mangott. Gerhard Simon é da mesma opinião. Segundo o
especialista, a Rússia não tem interesse em um peso permanente na
relação com os EUA. Lembrando casos passados de espionagem entre os
norte-americanos e a União Soviética, Simon afirma que, “olhando para
trás, estes casos não abalaram as relações de longo prazo dos dois
países.” (Com DW)
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