Audácia do caudilho – Certa feita, Otávio Mangabeira, então
governador da Bahia, disse uma frase que ganhou a história e até hoje
cai como luva na realidade brasileira. “Pense num absurdo, na Bahia há
precedente”. Estivesse vivo, Mangabeira já teria cobrado direitos
autorais de norte a sul, pois absurdos sobram nessa destrambelhada terra
chamada Brasil.
No momento em que a política brasileira está mergulhada na vala do
descrédito, há alarifes abusados que surgem em cena para aulas de
moralismo. Pouco depois das 16 horas desta quarta-feira (26), José
Sarney ocupou a tribuna do Senado para defender o projeto de lei (PLS
204/2011) que transforma em crime hediondo os casos de concussão e
corrupção ativa e passiva, de autoria do senador Pedro Taques (PDT-MT).
Ouvir José Sarney condenando casos de corrupção é pagar os pecados
antes da hora. Caudilho no mais miserável estado do País, o Maranhão,
Sarney deveria poupar o povo brasileiro de tamanho calvário no meio da
semana. Para quem não se recorda, José Sarney foi o principal
protagonista do escândalo dos “Atos Secretos do Senado”, devidamente
abafado com a ajuda de seus pares nada santos de parlamento.
Ainda no currículo recente de José Sarney consta a censura imposta ao
jornal “O Estado de S. Paulo”, que por decisão judicial continua
proibido de publicar qualquer informação sobra a Operação Boi Barrica,
da Polícia Federal, que flagrou, seu filho, o empresário globetrotter
Fernando Sarney, em estripulias na seara de remessa ilegal de dinheiro.
Também recheio o currículo de Sarney a manobra no Tribunal Superior
Eleitoral que culminou com a cassação do mandato do então governador
maranhense Jackson Lago (PDT). No lugar de Lago assumiu Roseana Sarney,
que meses depois cometeu a mesma irregularidade alegada no processo de
cassação do mandato do pedetista.
Como se fosse pouco o currículo de uma das nocivas figuras da
política nacional, o Procurador-Geral da República, curvando-se à
influência de José Sarney, corre o risco de ser processado por segurar
um processo contra Roseana.
No Tribunal Superior Eleitoral, o relator do processo contra Roseana
era o então ministro Arnaldo Versiani, mas Gurgel segurou a documentação
até o término do mandato do magistrado. Muito estranhamente, depois da
saída de Versiani do TSE, o caso envolvendo Roseana Sarney foi
redistribuído e caiu no gabinete da ministra Luciana Lóssio. Como
noticiamos anteriormente, Luciana Lóssio foi advogada do clã Sarney
durante oito longos anos. A proximidade com a agora ministra Luciana
levou Sarney à cerimônia de posse da apadrinhada no TSE.
Esse breve currículo de José Sarney, que agora tenta posar como
inimigo da corrupção, mostra com clareza que a reforma política pouco
ajudará no combate ao banditismo político. Na realidade, o Brasil
precisa de uma hecatombe política para que a seriedade volte a
frequentar seara tão perversa.
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