(*) Carlos Brickmann –
Dilma Rousseff poderia ter iniciado o controle de gastos públicos
pelo corte da reunião com governadores e prefeitos: eles foram a
Brasília só para ouvir. Poderiam ter recebido um vídeo por e-mail, seria
a mesma coisa. Ou apenas o texto daquilo a que Dilma chamou de “pacto”.
Que pacto, se ninguém pactuou nada? Pacto é acordo. Não é um novo tipo
de PAC, embora também não funcione.
Diria um cínico que há propostas boas e novas, sendo que as boas não
são novas e as novas não são boas. Mas estaria errado: as propostas não
são nem novas nem boas. A começar pela Constituinte exclusiva para a
reforma política. O vice Michel Temer, jurista consagrado, professor de
Direito Constitucional, já a considerou inconstitucional (http://www.brickmann.com.br/artigos.php). As demais:
1 – controle de gastos públicos. Seriam reduzidos o número de
ministérios, de funcionários contratados sem concurso? Seria abolido o
segredo do custo dos cartões corporativos, a redução de comitivas? Dilma
não anunciou nada disso.
2 – royalties do petróleo para a Educação. Já combinou com os
governadores? Como se gastaria esse dinheiro? Qual o projeto nacional de
avanço da Educação?
3 – tipificar a corrupção como crime hediondo. Quem porá o guiso nos
mensaleiros? Quem apoia a presença de condenados no Congresso irá
prendê-los?
Anunciar bons propósitos é pouco; e fica ainda pior sem combinar
primeiro com governadores e prefeitos que pagarão a conta. O pacto é
apenas a opinião de Dilma.
É como um sanduíche de pão com pão, sem recheio. Não dá liga.
Os médicos e o PT
Dilma prometeu contratar médicos estrangeiros (já é um avanço: ao
menos publicamente, ela considera que cubanos também são estrangeiros)
para suprir a falta de profissionais brasileiros. Pois é: o líder do
Governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, do PT paulista, em 2003 apresentou
projeto de lei que proíbe o aumento do número de vagas nas faculdades
de Medicina e a criação de novos cursos, sob a justificativa de que a
quantidade de médicos no Brasil é superior à recomendada por entidades
internacionais.
Que é que Chinaglia vai dizer a Dilma?
Questão de articulação
O pacto de Dilma com Dilma, que governadores e prefeitos tiveram de
ouvir, tem chance de ser aprovado? Talvez – mas os líderes de seu
Governo no Congresso, que precisarão coordenar as bancadas dilmistas nos
debates e votações, não foram informados de nada, nem consultados antes
da reunião.
Frase de Eduardo Braga: “No Congresso, acho que ninguém foi avisado.
Eu não sabia”. Frase de Arlindo Chinaglia: “Acabei de chegar, estou
tomando pé da situação agora”.
Anda, transporte!
A última ordem da presidente a governadores e prefeitos se refere a
investimentos em transporte- segundo Dilma, R$ 50 bilhões. Ótimo. Mas em
2012, só 33% da verba anunciada pelo Governo Federal para Transportes
foram liberados.
Tá faltando um
Na preleção a governadores e prefeitos, Dilma tinha a seu lado a
ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o vice-presidente Michel
Temer. Mas quem atraiu mesmo as atenções, pela vistosa ausência, foi o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. É como se, no Domingão do
Faustão, o Faustão não aparecesse. A presidente anuncia ousadas medidas
jurídicas e onde estava seu jurista?
No dia seguinte ele começaria a falar, mas dentro de sua especialidade: sem se expor.
Quem sabe mais?
Uma declaração de Mayara Vivien, 23 anos, estudante, foi o grande
destaque do encontro da presidente Dilma com os líderes do Movimento
Passe Livre, no Palácio do Planalto, em Brasília: ela disse que Dilma
está despreparada para entender de transporte público. A frase é notável
por dois motivos: primeiro, porque Mayara acha que ela e seus colegas
estudantes entendem de Transportes; segundo, porque Dilma Rousseff, além
de ter mestrado, de ter longos anos de experiência em administração
pública, está convencida de que é especialista não apenas em Transporte
Público, mas em todas as demais áreas de conhecimento humano. Deve estar
furiosa. Mayara criou um fosso entre ela e a presidente.
Igreja alerta
Fala-se em Copa do Mundo, Copa das Confederações, mas não se pode
esquecer algo muito próximo: a Jornada Mundial da Juventude católica, no
Rio, com a presença do papa Francisco. Falta um mês – e o Rio é
exatamente a cidade em que a casa do governador ficou dias cercada por
manifestantes, onde acaba de haver um combate entre Polícia e
traficantes com nove mortos, onde o tráfico ainda comanda amplas áreas. O
cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os
Leigos, organizador da Jornada Mundial da Juventude, já encaminhou à
Embaixada brasileira no Vaticano sua preocupação com a visita. O cardeal
não está apenas preocupado com o papa: teme também a repercussão do
noticiário entre os peregrinos que planejam participar do evento.
Definitivo
Do sempre articulado Hélio Schwartsman, na Folha, sobre o plebiscito:
“Se democracia direta fosse bom, assembleias de condomínio seriam um
sucesso”.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de
comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista,
editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de
telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de
Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de
Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de
Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.
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