terça-feira, 9 de julho de 2013

Por competitividade e segurança, Brasil precisa investir R$ 200 bilhões em rodovias

Dyelle Menezes
Do Contas Abertas
O governo federal está correndo contra o tempo para efetivar o pacote de concessões de cerca de 7.500 quilômetros de rodovias federais, que serão recuperadas, parcialmente duplicadas e mantidas pela iniciativa privada. Segundo a Bain & Company, empresa global de consultoria de negócios, seriam necessários 21 mil quilômetros de novas autoestradas e investimento de R$ 200 bilhões a 250 bilhões para aumentar a integração nacional, acentuar a mobilidade da população e do capital, garantir segurança das pessoas e do transporte e até mesmo para defesa nacional.
O estudo da entidade revela que o programa poderia ser executado em seis a oito anos (ou até em 15 anos se forem considerados atrasos de licenciamentos, desapropriações e nas execuções de obras que usualmente ocorrem no Brasil) e impulsionaria o crescimento do PIB brasileiro em até 1,25% por ano.
  Para Fernando Martins, sócio da Bain & Company e um dos autores do estudo, “o investimento em autoestradas é algo fundamental para um país com proporções continentais como o Brasil. No entanto, não há uma cobertura de autoestradas nem sequer próxima da necessária e tampouco há construções em ritmo suficiente para que esse cenário mude nos próximos anos”.
Focado principalmente em autoestradas (rodovias duplicadas), o estudo consolidou comparação de índices como amplitude e cobertura da rede, condições de segurança e custo do transporte, condições de manutenção, nível de investimentos anuais, temas como a regulamentação do setor, e o papel do estado no investimento e na manutenção da malha rodoviária.
Em 2009, o Brasil, na soma de todas as esferas públicas e as concessões privadas, investiu 0,35% do PIB (R$ 10,9 bilhões) em rodovias. Esse percentual representa grande avanço em relação a 2003, quando o investimento atingiu o nível mínimo, de apenas 0,11% do PIB (R$ 2,6 bilhões de reais a valores da época).
Apesar do crescimento, segundo o estudo, esse nível de investimento não é suficiente para as necessidades brasileiras. “Os Estados Unidos, que já possuem uma estrutura rodoviária de cobertura nacional construída há décadas, gastaram 0,8% do PIB nas suas estradas em 2008. A China construiu nos últimos 15 anos uma infraestrutura rodoviária que efetivamente conecta o país inteiro com cerca de 85 mil quilômetros de autoestradas”, explica a publicação.
Segurança dos motoristas e passageiros
Antes de qualquer outro motivo para investir em autoestradas, a Bain & Company lista a segurança dos motoristas e passageiros que, no Brasil, é notoriamente baixa. A comparação mostra o quanto o país está atrás de outras nações. Em 2008 registrou 19,9 mortes para cada 100 mil habitantes, contra 12 nos Estados Unidos e oito na União Europeia. Morrem por ano no Brasil 70,9 pessoas para cada 100 mil veículos em circulação, contra apenas 15 nos Estados Unidos e 16 na União Europeia.
Martins complementa dizendo que “naturalmente, o elevado índice de acidentes no Brasil não se deve apenas à condição das estradas. Tão notória quanto a condição das nossas estradas é a condição de muitos dos nossos motoristas e dos veículos utilizados por eles. Os governos federais e estaduais investem, e com razão, em programas de educação e segurança no trânsito e em legislações mais restritas. De qualquer maneira, os índices de acidentes são menores em autoestradas do que em rodovias simples também no Brasil”.
Aumento da competitividade do país
Outro motivo para acelerar o investimento em autoestradas é o alto custo do transporte e sua importância para a competitividade de custo da indústria brasileira. O modal rodoviário é imprescindível para que as indústrias brasileiras possam competir mundialmente.
De acordo com uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em 2008 a América Latina gastava 7% do valor das exportações com frete, quase o dobro dos 3,7% gastos pelos Estados Unidos. Parte desse alto custo se deve ao fato de a matriz de transporte ainda ser excessivamente dependente de estradas (60% da carga transportada é deslocada por estradas, contra 26% no território americano). E isso só se modifica com pesados investimentos em modais como ferrovias e hidrovias.
Mais participação privada
Segundo o estudo da Bain & Company, empresa global de consultoria de negócios, o potencial de participação privada em investimentos rodoviários no Brasil poderia ser maior. De acordo com a entidade, além da maior disponibilidade de capital, a iniciativa privada vem consistentemente demonstrando mais eficiência em custo e prazo para realização de grandes obras de infraestrutura. “Some-se a isso o fato de a qualidade de manutenção das rodovias sob gestão privada no Brasil ser notoriamente superior. [...] Além da economia em investimentos que a participação privada proporciona, o governo também economiza com despesas operacionais das autoestradas operadas por concessionárias privadas”, expõe o trabalho.
A consultoria também ressaltou que, historicamente, obras conduzidas pelo governo levam mais tempo e custam mais do que obras similares realizadas pela iniciativa privada. “Isso se deve a dificuldades de execução de projetos, licitações, entraves judiciais, corrupção e outros fatores. O investidor privado tem metas e incentivo econômico para cumprir prazos e orçamentos. E, em geral, tem estruturas menos burocráticas, permitindo execuções mais eficientes de projetos”, explica o estudo.
Além das vantagens econômicas, a situação atual das rodovias brasileiras demonstra que a segurança e qualidade das rodovias privadas também tendem a ser consideravelmente superiores. A diferença em qualidade também é evidenciada no estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) que analisou 93 mil quilômetros de rodovias, dos quais 17% estão concessionadas à iniciativa privada e 83% estão com o governo. “Além disso, podemos ver que 87% das privadas apresentam condição boa ou ótima, contra apenas 34% das públicas”.
De acordo com o estudo, a iniciativa privada pode participar dos investimentos mapeados em rodovias por meio de concessões simples ou parcerias público-privadas. “Embora alguns dos projetos listados no nosso estudo pareçam a princípio atrativos à iniciativa privada e possam viabilizar uma concessão simples, outros não devem ser financeiramente viáveis e com certeza necessitarão de capital público”, explica o trabalho.
Acreditamos que cerca de 13 mil quilômetros (61% do total) podem ser trechos onde deve ser viável a cobrança de pedágios em valor adequado para remuneração do investidor privado.  Já os 8 mil quilômetros restantes (39% do total) encontram-se em regiões de PIB per capita mais baixo e menor atividade econômica, o que geraria provavelmente a necessidade de participação governamental por meio de co-investimento ou pedágio com valor subsidiado. Ambos caracterizariam uma parceria público-privada.
Bain & Company
A Bain & Company orienta clientes em relação a estratégias, operações, tecnologia, constituição de empresas, fusões e aquisições, desenvolvendo práticas que assegurem aos clientes transparência nos processos de mudança e tomada de decisões. O desempenho dos clientes da Bain superou o mercado de ações em 4 para 1. Fundada em 1973, em Boston, a Bain conta com 49 escritórios em 31 países e já trabalhou com mais de 4.600 empresas entre multinacionais e companhias privadas e públicas em todos os setores da economia.

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