(*) Lígia Fleury –
Por “veses”, chego a acreditar que li
errado uma notícia ou que houve engano do repórter ao relatar algum
dado. Mas quando confirmo a “verassidade” dos fatos, lamento não ter havido lapsos da equipe de reportagem; seria mais compreensivo e até hilário.
Meses atrás, após ouvir, fui conferir e então pensei comigo mesma: a luta é muito maior do que se imagina.
“Analizadas” por uma equipe qualificada
para tal, as redações do ENEM com nota máxima, apontam erros
ortográficos. Não importa se é a troca de uma letra, o uso do xis ou do
ss; são erros e demonstram falta de conhecimento, principalmente quando
se repetem.
Nas escolas, cobramos dos alunos que escrevam corretamente. Desde pequenos, aprendem a “utilisar”
dicionário. Alguns professores criam estratégias fantásticas para
significar regras de acentuação, de concordância. Cobramos nas
produções, nos registros das atividades que os alunos escrevam
corretamente, lógico!
E, de repente, os erros em um concurso – sim, o ENEM é um concurso,
pois notas são atribuídas e os resultados podem favorecer o “ingreço”
em muitas Universidades/ Faculdades -, podem acontecer sem que haja uma
notificação do corretor? E o resultado final é a nota máxima?
Como insistir junto aos alunos para que escrevam corretamente?
O uso constante da internet já traz novos desafios para a
aprendizagem correta da nossa língua, já que a linguagem nos sites de
relacionamentos é diferente da oficial, da regulamentada por regras
ortográficas e gramaticais. É um outro código, com regras próprias.
Não duvido que alunos comecem a questionar professores sobre a
importância de escrever corretamente; podem sentir-se autorizados ao
erro, não podem?
O verbo estar já tem outra forma: Eu to, Tu tás, Ele tá, Nós tamo(s)..
e agora nem precisamos mais escrever com a ortografia correta, pois
não representa grande importância no momento de uma avaliação?
Ensinar para quê? Cobrar o quê? Cobrar para quê?
Educar está cada vez mais difícil. Seria tão fácil se todos os
educadores cumprissem a premissa básica do ensinar, que é possibilitar a
aprendizagem do aluno. E não se ensina o erro, muito menos se incentiva
ao erro.
O Brasil é um país com uma extensão territorial enorme; dividido por
regiões, hábitos e costumes singularizam os habitantes nas
características de alimentação, vestuário, linguagem.
Uma palavra cotidiana do Sul pode nem ser conhecida no Nordeste e
vice-versa, mas ambas seguem regras ortográficas da língua portuguesa;
isso não é uma variável. Assim como as concordâncias nominal e verbal.
Então não é admissível que se aceite o erro da escrita. Não resolve
criticar profissionais que mal sabem fazer uma petição, uma prescrição,
uma anotação, se a própria Educação desqualifica o escrever
corretamente.
A literatura exigida nos vestibulares- clássica e contemporânea- não
ensina erros ortográficos; os livros didáticos e paradidáticos também
não. Então, por que aceita-los em concursos?
No país do jeitinho, até errar a escrita da primeira língua é permitido?
Não se trata de ser retrógrado ou ser antenado. Trata-se de educar e ensinar o correto.
E foi necessário essa imprudência educacional vir à tona para que o
órgão responsável tomasse uma medida cabível, como se isso não fosse de
seu conhecimento antes de se tornar notícia. Por sorte, temos a imprensa
ajudando a população a conhecer os problemas e as soluções desse imenso
Brasil.
Salve-se quem puder!
Para os que se importam – espero eu que a imensa maioria – e também
para os que não se importam, a grafia correta das palavras em negrito:
Vezes – veracidade – analisadas – utilizar – ingresso – Eu estou – Tu estás – Ele está – Nós estamos
(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.
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