(*) Lígia Fleury –
Publicado em diversos jornais nesta última semana, o assunto não
poderia ser, infelizmente, mais redundante e trágico: o Brasil está no
38º lugar no ranking de Educação, dentre 40 países analisados pelo Instituto Pearson e pelo The Economist Intelligence Unit, conforme análise de dados dos dois últimos anos.
Redundância que não se encontra apenas neste resultado, mas no
cotidiano do brasileiro. Apontar as causas desta medíocre posição
mundial tornou-se repetitivo demais; todos os letrados e, minimamente
leitores, as conhecem. Não temos um governo omisso mas, neste caso,
seria infinitamente melhor se assim o fosse. A atuação dos órgãos
políticos na Educação tem sido absurdamente desastrosa. São exames
forjados, verbas desviadas, escolas em ruínas, merendas que não saciam,
material e uniforme que não chegam ao aluno, transportes que não
funcionam.
Omissão nesse caso poderia ser um ganho; quem sabe ao menos não
haveria desvios… Como mudar esse discurso e inverter a posição no
ranking?
Estudando e trabalhando. Felizmente, por outro lado, tenho assistido
conquistas de verdadeiros guerreiros. São professores fazendo
verdadeiras “mágicas” para debater o conhecimento, transformar a
informação em ações práticas e permanecerem próximos ao aluno. E como
conseguem? Estudando, trabalhando e lutando a favor da aprendizagem.
Estes professores não se acomodam apenas na leitura de artigos
e textos ou na participação de palestras, mas ousam no momento de
questionar novas informações e só depois de enxergarem no sentido destas
uma efetiva aprendizagem, desafiam o potencial de seus alunos, mexendo
com a curiosidade e incentivando a busca de novos conhecimentos.
São professores que não se contentam em levar ao aluno uma nova tecnologia, mas desafiam-no a criar em cima
da nova tecnologia. São professores que não se acomodam com a falta do
caderno e do lápis, mas que, apesar disto, instrumentalizam o aluno por
meio de rodas de conversas, dramatizações, exercícios em pequenos
grupos, busca de soluções para problemas da comunidade, jogos da vida prática.
São professores que lutam
para reverter o estrago causado pelos órgãos públicos. É o olhar sempre
atento dos mestres que faz a diferença. Então, não podemos esperar que
os órgãos responsáveis por mudar a realidade desastrosa da educação
brasileira façam algo para reverter este ranking. Esperar por isso é
permanecer no final da fila.
Vamos criar desafios para o cálculo mental, problemas que exijam soluções práticas,
estratégias para compreensão de textos, dinâmicas de socialização com o
que temos em mãos: olhares curiosos dos nossos alunos, vontade de
aprender e compartilhar.
Vamos diminuir a fronteira entre as diferentes realidades, seguindo o exemplo de uma escola particular de São Paulo que levou os alunos para conhecerem escolas rurais do interior do estado.
O que antecedeu esta visita foram conversas entre a direção destas
instituições para o alinhamento dos planejamentos. Durante o encontro
dos alunos de realidades tão diferentes, os professores trocaram
informações e todos saíram ganhando. Criou-se um intercâmbio entre estas
realidades que continuará por meio de cartas, um gênero textual
estudado pelos alunos. Zona rural e zona urbana juntas, parceiras pela
aprendizagem, pela construção de um mundo melhor.
Em um próximo artigo contarei sobre esta proposta, certamente uma das
muitas possibilidades de sairmos da contramão em que irresponsáveis
colocaram a educação brasileira.
(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.
Link para esta matéria: http://ucho.info/?p=81571
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