Ex-presidente Lula afirma que mobilizações pegaram todos de surpresa e que PT age de forma antiga na política
Em janeiro deste ano um grupo de assessores e
dirigentes petistas se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na sede do Instituto Lula e sugeriu um forte investimento na
profissionalização da gestão das redes sociais pelo PT e pelo governo.
Segundo relatos, Lula está fascinado com as novas formas de atuação política online. Na imagem, ex-presidente em julho passado
Eles teriam mostrado a Lula um gráfico sobre a
presença dos grupos políticos nas redes. A direita era um enorme círculo
azul. A esquerda um pequeno círculo vermelho e o PT um ponto,
representado apenas pelo perfil Dilma Bolada no Facebook.
Segundo relatos, Lula teria ignorado a sugestão."Isso aí não resolve nada. O que importa é a TV", teria dito o ex-presidente, adepto até então da máxima do marqueteiro Duda Mendonça segundo a qual "TV é benzetacil, o resto é homeopatia".
Seis meses depois, na última sexta-feira (2), o próprio Lula fez uma espécie de mea culpa na abertura do XIX Encontro do Foro de São Paulo.
"Estes movimentos que aconteceram aqui no Brasil pegaram de surpresa todos os partidos de esquerda, de direita, o movimento sindical e o movimento social porque nós ainda agimos da forma antiga para fazer política", disse Lula. "Nós na verdade, fomos ficando velhos e perguntamos: cadê a juventude do nosso partido? Como estamos nos comunicando com eles?", admitiu o ex-presidente.
Com aval de Lula, o PT decidiu contratar uma equipe para gerir de forma profissional a presença nas redes sociais, segundo o presidente do partido, Rui Falcão. A contratação faz parte de uma série de medidas que o PT pretende adotar para se reaproximar dos movimentos sociais, em especial da juventude que foi às ruas em junho.
Integrantes do Movimento Passe Livre em encontro com Conselho da Cidade, em junho
Nas últimas semanas movimentos da juventude como os
coletivos digitais ganharam espaço nas concorridas agendas de Lula e
Falcão. O presidente do PT fez uma reunião com toda a executiva da
Juventude Petista e intermediou encontros do ex-presidente com o a
Juventude do PT, blogueiros progressistas e o coletivo Fora do Eixo, do
qual faz parte a mídia NINJA.
Segundo relatos, Lula está fascinado com as novas formas de atuação política online.
Além de melhorar a estratégia de comunicação, o PT
decidiu incorporar vários pontos da pauta de reivindicação da juventude.
Temas como novas oportunidades de acesso à educação, melhoria do
transporte nas grandes cidades, abertura de mais espaços públicos para
atividades culturais, aumento na qualidade dos empregos para os jovens,
criação de novos canais de participação política, descriminalização das
drogas leves e também o direitos das mulheres entraram na pauta do
partido e, segundo Falcão, devem ser o eixo da modernização
programática. O palco para a inclusão desta nova agenda deve ser o 5º
Congresso Nacional do PT, em fevereiro de 2014.
"O legado destes 10 anos de governo petista
deve ser divulgado e protegido, mas não é suficiente. Temos que pensar
no futuro. E o futuro não é o presente com um upgrade", disse Rui
Falcão.
Depois do impacto negativo no primeiro momento
(queda da aprovação do governo e reação negativa à presença de partidos
políticos), o PT passou a encarar as mobilizações populares de forma
mais otimista, como uma oportunidade de guinada à esquerda. Daí as
críticas aos aliados "conservadores" e à dependência excessiva de
marqueteiros eleitorais incluídas em documentos do partido.
"O futuro não é o presente com um upgrade", disse Rui Falcão
Depois de muita discussão e dúvidas a direção petista
elaborou um discurso segundo o qual os governos dos partidos criaram uma
base de direitos sociais que permitiu à juventude ir às ruas impor uma
nova agenda ao país e cobrar um salto de qualidade baseado na melhoria
dos serviços públicos. Além disso, o partido identificou pontos em comum
como a reforma política e o combate aos monopólios da mídia.
Diante dos protestos de junho, o PT assumiu,
dentro da coalizão de 22 partidos que integra o governo Dilma Rousseff, o
papel de pressionar o governo pela inclusão das novas pautas e por
mudanças na política econômica. "Cabe tudo isso no Orçamento da União?",
questiona Rui Falcão. "Não cabe. Então uma saída é rever o modelo
fiscal e a escala das prioridades de gastos do governo", disse ele.
Tudo isso para aproximar o PT das novas formas
de mobilização política e tentar trazer os novos ativistas para a
política partidária. "A utilização das redes sociais, a possibilidade de
cada um dizer para todo mundo o que pensa de forma individual no
Facebook é, de certa forma, um movimento antiassociativo e, portanto,
antipartidário também já que os partidos pressupõem associação e ação
coletiva", disse Falcão. "A última grande formulação programática do PT
foi no final dos anos 80. Desde então temos nos dedicado a outras
tarefas como o governo ou os embates eleitorais que acontecem a cada
dois anos. Temos que nos perguntar o que a gente representa hoje e a
quem estamos nos dirigindo. No 5º Congresso vamos ter que refletir sobre
tudo isso", completou.
Para o PT, mais do que pegar carona na onda de
manifestações, é fundamental renovar os vínculos naturais e históricos
do partido com os movimentos sociais. "Houve um refluxo dessa relação,
seja porque alguns movimentos se sentiram contemplados pelo governo,
seja porque muitas pessoas foram beneficiadas nestes 10 anos", admitiu
Falcão. "Precisamos reforçar este vínculo. Os movimentos são ao mesmo
tempo a linha de frente das mudanças sociais e a retaguarda estratégica
para nos defender em caso de ataques", disse o presidente do PT.


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